Eu Sou poeta do esgoto
"Estou esgotada
De tanto lixo, de tanto resto
Sem manifesto
De compaixão.
Estou norteada
Para o desperdício do ser
O silêncio do verso
E a dor mais injusta.
Estou esgotada
Vou pela correnteza
Sem sanidade ou saneamento.
Estou esgotada
E deito-me nos restos
De alimento e de suporte
Que boiam na sarjeta do senti
Eu vejo um boeiro
Não vejo luz no fim do túnel
Talvez um incinerador.
Irmão, irmão rato que bóia.
Ó mãe lata destes reinos
(O poeta viu a "concha vazia do amor"
Mas eu vi a lata vazia da sanidade.)
Tudo é fétido aqui,
Venha me visitar.
Estou vendo mil maravilhas
Que tua ambição e burrice
Jogaram fora e ao léu.
Simplesmente estou esgotada
Desta ambição e desta burrice também.
Veja: dejetos do que é humano.
Estou esgotada de tanto suportar
A íntegra desgraça da humanidade.
Eu vou fazer frases bonitas
Da tua mais mórbida feiura.
Eu vou te ensinar a ver a luz
Na ausência do que te constrói.
Estou no esgoto dos sentimentos
E dos desejos mais surreais.
Passam por mim ilusões e sorrisos,
Lágrimas, sangue, vômito,
A bile dos poetas românticos
O concreto dos poetas modernos.
Estou esgotada e nado no esgoto
Para com o excesso fazer-me paz.
Fazer-me sentido. Fazer-me sentir.
Venha ver o aperto no peito
A lata e a insanidade.
Sou poeta do mundo e da dor
A cantar a desgraça com brilho no olhar.
Sou poeta de nossos restos de sinceridade
E faço versos para alívio e compreensão.
Eu sou poeta do esgoto e estou esgotada
Porque é do dejeto que nasce o poema."

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