sábado, 17 de outubro de 2020
As vezes eu preciso de ajuda...
Você me disse que sua vida anda tanto faz. Eu lembro que respondi algo do tipo: “se a gente se acomoda perde muita coisa”, entretanto pelo o que ando observando dentro dos olhares alheios, a sua vida não é a única a ter tomado esse rumo. A gente se acostuma. A ter uma vida nem boa nem ruim. Desde que ela não exija o que nos é essencial, a gente suporta. Não porque é mais fácil, mas porque é menos doloroso. As pessoas a nossa volta ficam soprando vida por nossos lábios, como se isso fosse suficiente para que nossa pele deixe de lado a palidez mórbida habitual. Por um tempo nossos pulmões correspondem. Nos enchemos de “vai ficar tudo bem”, “estou sentindo que algo muito bom vai acontecer”, “é só ter fé e continuar”, “amanhã vai ser um novo dia”. Esperançosos. Cheios de expectativas. Com o pensamento grandioso. Elevamos nosso espírito. Ai que lembro que mais ou menos uma semana depois disso você veio me falando que agora tanto faz. E eu fiquei me perguntando: “O que aconteceu com o: vai ficar tudo bem?”. Você não soube explicar. Só disse que não valia mais a pena. Que as coisas são melhores assim. São mesmo? Acho que você exige demais de si mesma. Não só você, todos nós. Queremos grandeza. Queremos ser o máximo. E pior: queremos chegar ao topo e que todos nos admirem por termos chegado lá. Não há nada de errado em querer essas coisas. Mas pelo o que eu andei observando, como já lhe disse, pelas olheiras cansadas, pelas cabeças reclinas nos assentos de ônibus, pelas pálpebras ambiciosas dos leitores assíduos, o que se quer não é isso. Você só quer que alguém veja que você é uma boa pessoa. Que através dessas tuas fugas constantes do que lhe preenche o peito, tudo o que lhe faria bem seria alguém observando a forma como move as coisas ao seu redor.
Eu nunca vou entender porque as pessoas precisam tanto da aceitação dos outros pra ser o que elas querem. Nunca vou entender essa coisa louca que elas têm de precisar ser feliz de acordo com o outro, de ajustar suas expectativas em relação aos ideais alheios, a mover seus sonhos de acordo com fragmentos difusos de pessoas mal conhecidas. Nunca vou entender essa nossa necessidade de só sentir bem, só sentir completo na presença de outra pessoa. Porque se a gente se bastasse, nossa. E nossa é a única palavra que eu consigo decodificar. Ser tanto faz nos diminui. Ser tanto faz é desistência. É pecado grave que o universo faz questão de nos cobrar depois. Por isso Alice: se perdoe. Você tem que se perdoar. Só podemos nos elevar até certo pouco. Só podemos ir em frente até certo ponto também. Cada um tem o seu tempo. É um saco, mas é verdade. Pare de ficar se forçando. Para de ficar exigindo demais de si mesma e principalmente dos outros. E ah, perdoe eles também. Eles estão tão perdidos quanto você. E eu sei que você vai me dizer que você sim os nota, que você sabe de suas lutas diárias e dos seus joelhos ralados e que eles deveriam saber das suas também. Que deveriam olhar para esses teus arranhões superficiais. E esse é mais um motivo pra você cuidar mais de si mesma. Não estou dizendo pra ser egoísta. Mas cá entre nós: eles sabem que você vem os observando, que você os compreende. Isso os assusta também. Lembre-se: só podemos ajudar até certo ponto. Mesmo que esse ponto seja a dois metros de distancia com a cabeça cabisbaixa. Pense nisso.
Com carinho
Posted by
Uma paraibaninha
at
07:06

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