Eu sinto falta dos dias normais. Dos dias em que eu estava surtando com as atividades da universidade,morrendo de sono e trabalhando feito louca. Sinto falta do 245, a linha de ônibus que eu usava 4 vezes ao dia, e que eu passava exatos 56 min, em cada uma das vezes. Sinto falta de sentar na cadeira mais alta do ônibus e ler as apostilas das aulas, por ser o único tempo que tinha para fazer isso. Eu sinto falta de reclamar por não ter tempo e de pensar que eu ia enlouquecer, a cada final de semestre.
Trabalhar de meia noite a 06:20, ir correndo pro ponto do ônibus, pra aula as 07 horas, subir correndo as escadas, chegar atrasada e pedir desculpas aos professores. Ir correndo pra parada de ônibus, de novo, chegar em casa quase 13:15, dormir por 3 horas e 20 min, acordar pra assistir aula a noite, e de lá, ir pro trabalho. Era a rotina.
Que saudade eu sinto dessa rotina. Que saudade de ver meus amigos, de apresentar seminários, de ir na biblioteca pegar livros e lê-los dentro do ônibus,sim, o 245, onde eu ficava mais tempo do que na minha casa. Tenho saudade da minha antiga casa, de subir as escadas apressadamente, passar pela varanda e pensar " qualquer dia desse eu fico aqui na varanda, no fim da tarde". Mas esse dia não chegou. Tive que me mudar e Safira perdeu seu quintal e eu minha varanda.
Veio a pandemia e as aulas antes presenciais, passaram a ser online. As conversas passaram a ser pelo WhatsApp, as nossas sextas feiras,segundo horário sem aula, lá no churrasquinho de seu Antonio, sumiram. Nós tivemos que nos adaptar. Nós tornamos "normal" o " to com saudade, depois que passar essa pandemia, a gente vai se reunir". E agora, mesmo que algum dia tudo volte ao normal, nossa reunião será incompleta.
Chicão. Dia 26 de maio você se foi. E eu sinto tanto sua falta. Sinto falta de suas mensagens me perguntando como eu estava. Sinto falta de estar ali, nas barracas da UEPB, comendo algo antes de subirmos para a aula de 19 horas. Dos nossos risos. Daquela pequena porção do dia que eu chamava de felicidade.
Ainda não consigo acreditar que você se foi. Ainda não consigo acreditar que esse vírus te levou. Não consigo acreditar que não vou te ver defendendo o TCC. Que não vou mais escutar você dizendo para eu me cuidar e me ajudando a subir naquelas escadarias da Universidade onde tantas vezes tropecei.
Não acredito que no final das noites de sexta feira não iremos ficar jogando conversa fora, reclamando da quantidade de atividades que os professores passaram, reclamando do governo, escutando música e desabafando. Nossa turma sempre foi tão unida, éramos todos tão próximos...
Eu sinto sua falta, meu amigo. Especialmente esse mês de junho, de festa junina. Tantas lembranças. Foi num mês como esse que estávamos fazendo nossos projetos de pesquisa, em pleno São João e todos nós lá em casa, reescrevendo, formatando. E depois comemorando nossas notas. Comemorando mais um período aprovados.
Quando você adoeceu, eu te escrevi todos os dias, na esperança de que quando você saísse do hospital você veria minhas mensagens. A última mensagem que você me mandou, foi um pouco depois de sua internação, você dizendo " Obrigado Mel, obrigado sempre por tudo". Eu que te agradeço. Eu que tive o privilégio de conviver com alguém tão incrível.
Eu queria tanto meus dias normais de volta. Mesmo que isso significasse ter as mesmas dores de cabeça de sempre, por não conseguir direito, mesmo tendo que correr contra o tempo no trabalho, para deixar tudo pronto e dar tempo de fazer meu exercícios/trabalhos acadêmicos. Mesmo que isso significasse comer uma vez ao dia, por simplesmente não ter podido parar pra comer. Eu queria de volta todos esses dias, se eles te trouxessem de volta.
Quantas vezes você não foi a biblioteca comigo, para que usasse sua conta, por eu já ter excedido a quantidade de livros que era permitida. Quantas vezes você me fazia comprar algo para comer, mesmo eu dizendo que estava enjoada, por saber que eu não me alimentava bem. Quantas vezes sorrimos juntos e quantas vezes, você me confortou nos dias em que só havia lágrimas para mim...
Eu sinto tanto sua falta meu amigo. Eu queria todos os dias de caos, se junto viesse a calmaria de sua amizade. Se saudades consumisse, eu provavelmente não estaria mais aqui. Mas, na verdade, talvez ela consuma mesmo, por dentro, devagar e constante, corroendo os ossos, o coração e a alma; tomando os pensamentos, a força, o ânimo. Queima, dói, impede de avançar, faz desabar, chorar! Essa saudade deixa uma marca que equivale ao tamanho do seu lugar em mim, o infinito.
Eu escrevi apenas para te dizer que eu sinto sua falta.
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