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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Sobre constelações



A maioria das estrelas que vemos no céu já estão mortas. Isso porque a luz chega atrasada para nós, fazendo com que tudo que está no céu se reflita aqui na terra um bom tempo depois. Essa noite eu estava com os braços escorados no parapeito da janela com os olhos fixos no céu. Elas são tão lindas. Tão plenas. Tão delas mesmas. É tão difícil acreditar que o céu que estou vendo já não é o mesmo e que a estrela que estou admirando já foi sugada pela escuridão. Como algo que lhe tira o fôlego pode não existir mais e ainda assim permanecer no mesmo lugar como se sua ausência nunca tivesse sido notada? Fico pensando se não é o mesmo que acontece com o que sentimentos. Será que nossos sentimentos são como estrelas mortas no céu? Um arrepio arrasa meu corpo. Esse pensamento me assusta. Mas eu não consigo deixá-lo de lado. Acho que vem do fato que a gente sempre precisa de algo para explicar o que sente. Ou que nos faça expandir um pouco mais o coração dentro de nossa caixa torácica. O que eu quero dizer é que carrego algo dentro do meu céu que brilha com tamanha intensidade e que é tão imenso dentro dele, mas parece que não existir mais. Que aquele lugar não é o dele. Que algo está devorando sua luz e a única que coisa que o impede de se deixar levar é a minha presença. Que a cada minuto do meu dia verifica se ele continua presente, se continua respirando, se continua sendo meu. Porque a ideia de que ele não está mais dentro de mim é insuportável. E ai que eu penso, e se eu estiver enganada? Sim, as estrelas que vemos no céu já estão mortas, mas a sua luz continua iluminando todo o universo. Como se através do caos elas resolvessem que vale a pena atravessar quilômetros e quilômetros de anos luz só para que eu possa agora olhá-las e sentir que não estou tão sozinha. Isso as torna incríveis. E faz com que o que a gente sente se torne algo grandioso. O que a gente sente por alguém, não morre. O que a gente sente por alguém é como estrela. Que viaja através dos anos adquirindo várias formas respirando a mesma essência. A gente o mantém vivo, porque ele nos faz ser o que a gente. O que a gente olha, toca, sente. Aquilo que nos faz ver vez enquanto a melhor parte da nossa alma. É por isso que a gente gosta tanto de olhar para o céu. Porque o nosso corpo é um amontoado de constelações que viajam através do espaço refletindo o melhor que podemos ser


E Eu não me importo

Vá em frente e me magoe

Eu não me importo se você o fizer

Porque em um céu, um céu cheio de estrelas

Eu acho que te vejo

Eu acho que te vejo

Porque você é um céu

Você é um céu cheio de estrelas

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