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domingo, 1 de novembro de 2020

Um verme





Se eu esperar pelos céus tempestuosos,
Você não distinguirá a chuva
Das lágrimas nos meus olhos ...



Lágrimas desciam por sua face pálida. Lágrimas de tristeza,  dor, sofrimento, agonia, desgosto. Numa torrente incontida elas extravasavam, mas  em nada diminuíam    o que ela sentia . Não traziam alivio. Alento. Apenas alimentavam idéias tortuosas que vinham a sua mente. 
Sentia-se caindo num precipício, estava com dificuldades de respirar  seu músculo cardíaco doía, seu estômago revirava-se e ela estava agarrada as palavras , pois tinha dificuldade de segurar qualquer outra coisa que não fosse aquilo que tentava exprimir. 
Ela queria gritar , mas seria um apelo mudo. Ela estava sem voz. Ou talvez apenas os outros não escutavam o que a moça dizia. Olhavam para ela mas não a viam . Ignoravam todos os sinais de que ela precisava de ajuda.
A moça naufragava. Em seus sonhos, em seus medos, em suas vontades. A moça morria. De uma overdose de intensidade que ninguém compreendia. De uma overdose de remédios que em suas veias corriam . A moça era fraca . E insistiam em dizer que ela suportava , que ia superar . Quando na verdade ela covardemente desistia de si . Ela não merecia o nome que carregava . Deveria ser uma Vitória como assim foi seu nascimento. Mas era apenas uma derrota . Entre tantas . 
Era drama, de um script conhecido. Não era nada . Ninguém.  Seus pulsos exibiam machucados. Não doíam. Já lhe surraram várias vezes e ela nem mais sentia .E mais uma vez ela estava sozinha . Com seus pensamentos.  Eles eram perturbadores. Eles a enlouqueciam . Eles a matavam. Mas antes de tudo Torturavam  com seus detalhes sórdidos, inconfessáveis . Com requintes de crueldade, e não apenas satisfeitos com o mal que lhe causavam , seus pensamentos lhe aniquilavam. 
Eram milhares de vozes ecoando em sua cabeça, zombando de seus devaneios. Suicida. Suicida. 
E quantas vezes ela teve apenas que respirar , que prosseguir , que tentar. E quantas vezes ela caiu em suas tentativas para entender que não importava o quanto ela tentava mascarar-se de determinada ela apenas iria continuar no chão, poderia até se erguer um pouco apenas para que a queda fosse maior . E não havia culpados. Não eram as estatísticas , o destino, as pessoas, era apenas ela que não de enquadrava, que não se moldava, que não se adaptava  ao mundo . Era apenas ela  que não merecia estar viva. Não, ela realmente não merecia . Não importava quantos trabalhos voluntários ela fizesse, não importava quantas pessoas ela tentasse ajudar, não importava sua consciência ecológica, sua revolta contra injustiças . Havia uma parte de seu coração que seria sempre obscuro. Ela não era boa.  Você não veria emoções em seus olhos pois de tão acostumados a esconder dos outros e sozinha sofrer ela simplesmente se tornou um bicho. Não foi assim que foi chamada diversas vezes? Um bicho sem sentimento . E talvez de tanto escutar ela tenha se tornado . Aos outros reservava um sorriso doce mesmo que em sua amarga mente não existissem sorrisos. Aos outros reservava conselhos . Mesmo que em sua vida não os aplicasse. Aos outros reservava amor.  Mesmo que não amasse a si . Nunca tinha amado. Nunca tinha se sentido especial. Nunca se admirara consigo. Não havia beleza exterior e nem interior . Seu interior era um inferno. Cujas chamas a queimavam implacavelmente . 
Era uma moça. Mas não deveria passar de um aborto.  E brevemente os vermes a farão companhia . Os vermes, como ela. 


* Texto escrito a algum tempo atrás.

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