Eu faço versos de fluoxetina
Com suas tarjas pretas que anunciam
O perigo de cair em si.
Cada verso despeja em minhas fendas
Algo que me lembra alguma endorfina
E por mais que nada eu compreenda
Antagonizam a dor da minha sina.
Eu faço versos de fluoxetina
Que temporariamente retêm as lágrimas
E fazem-se agonistas de alegria qualquer.
Tenho me calado diante de errôneos conceitos,
Reservo meus gritos com todo o cuidado
Para meus poemas sobre um mundo imperfeito
Que me curam da dor de não ser enganada
Eu faço versos de fluoxetina
Com suas concentrações em excesso de razão
A me tornar dependente do que necessito criar.
E quando vem-me qualquer catecolamina
Eu escrevo o caos, a vontade e a ciência
E nas sinapses passeia a fluoxetina
- Expressar e riso da minha existência.
Eu faço versos de fluoxetina
Com suas tarjas pretas de censura e eficácia
Comprimidos sem rima, métrica ou pudor.
Eu faço dos versos minha fluoxetina
E a palavra e o sonho são matéria-prima
Do que de mim veio e só a mim sabe curar.
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